Celtejo de portas abertas
A empresa mostra os efeitos práticos dos recentes investimentos realizados para reduzir o impacto da sua atividade no rio Tejo. Efetivamente, há períodos em que alguns dos parâmetros do efluente se encontram em melhor nível do que os da água do rio.
Nos últimos três anos a Celtejo investiu um valor superior a 130 milhões de euros para melhorar o seu desempenho ambiental. Os investimentos realizados incluíram uma nova caldeira de recuperação, uma nova Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais (ETARI), remodelação da linha de pasta e uma nova turbina de condensação. Estes investimentos de última geração foram essenciais para preparar a fábrica para os desafios futuros, seguindo a estratégia de combater a poluição na sua origem e não em tratamentos de fim de linha.
A atual qualidade do efluente permite reutilizar cerca de 20% do efluente tratado. A mistura de água e efluente é utilizada na zona mais limpa do processo fabril na lavagem do produto final.
Considerando o momento de estabilização e consolidação dos projetos implantados no passado recente, a Celtejo entendeu que tinha chegado o momento de abrir as suas portas. Assim, foi organizado o evento Celtejo de Portas Abertas que registou a presença de vários responsáveis da Altri, autarcas regionais, associações ambientalistas e diversos meios de comunicação social.
Reutilizar água tratada no branqueamento da pasta de papel
O principal objetivo desta ação era responder e dispersar todas as dúvidas relacionadas com o real impacto de Vila Velha de Ródão no Tejo. O município só tem tempo de antena nos media quando surge poluição no rio e, geralmente, o dedo é apontado ao tecido produtivo localizado no concelho.
Por esse motivo, Pedro Baptista, diretor industrial da Celtejo, iniciou o evento enumerando os investimentos realizados desde 2017 para evidenciar aos presentes que não faz sentido associar os eventos de espuma e cor, que ocorrem de forma cíclica, com a atividade industrial da Celtejo.
“Estamos muito seguros do caminho que temos vindo a fazer nos últimos anos”, disse o responsável da Celtejo, acrescentando que “a qualidade do efluente emitido pela Celtejo atingiu níveis de qualidade que permitem a sua utilização na substituição parcial da água captada no Tejo. “Hoje temos a possibilidade de substituir 20% da água por efluente fabril.” Parece estranho, mas é verdade. Os novos investimentos permitiram à Celtejo recuperar uma parte considerável da água do efluente e voltar a utilizá-la na produção de pasta branqueada, que possui requisitos muito exigentes em termos de qualidade.
“Não faria qualquer sentido utilizar o efluente nestas condições se este não tivesse uma qualidade compatível”, explica o nosso interlocutor. Uma medida que permite à Celtejo retirar menos água do rio e libertar menos efluente para o Tejo.
Mais produção, menos poluição
Pedro Baptista sublinhou que é feito um acompanhamento bastante apertado e rigoroso da qualidade do efluente e da água do Tejo. “Temos sondas que medem continuamente um conjunto de parâmetros relacionados com o efluente e com a água do rio e que são comunicados à Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Além disso temos um plano de análises (obrigatórias e não só) que complementa os registos das sondas.”
As informações das sondas são transmitidas de forma contínua, 24 horas dia, todo o ano, sem qualquer interferência da parte da Celtejo. As sondas são submetidas regularmente a operações de verificação metrológica e são complementadas por um vasto plano de análises.
A licença em vigor obriga a Celtejo a realizar 4.020 análises ao ano, mas na realidade são feitas cerca de 24.000 análises relacionadas com o efluente e com o Tejo. Importa sublinhar que só 15% destas análises são obrigatórias.
Entre 2018 e 2020 a capacidade da fábrica evoluiu de forma gradual, passando de uma produção mensal de 18.000 t para 22.000 t. Só foi possível de alcançar este aumento graças a dois factores. Por um lado, a alteração das condições de cozimento (no digestor), que são hoje bastante menos agressivas que no passado. “Uma situação que permitiu produzir mais pasta com a mesma quantidade de madeira e também gerar menos licor negro”, conta Pedro Baptista.
É a partir da queima desse licor negro que a Celtejo satisfaz as suas necessidades energéticas (vapor e energia elétrica). Além disso, os produtos resultantes dessa combustão permitem fechar o ciclo de recuperação química. Os novos investimentos tiveram um grande impacto na componente ambiental, mas também nos níveis de eficiência da unidade.
Mesmo as áreas que ainda não sofreram grandes modificações tiveram melhorias no desempenho, como é o caso da máquina de secagem, que elevou em cerca de 15% a sua capacidade.
Por outro lado, surge a importância da nova caldeira de recuperação, que deu muita estabilidade ao processo e a remodelação do cozimento, crivagem e lavagem de pasta crua, o que possibilitou pôr em prática aquilo que sempre foi defendido pela Celtejo: a qualidade do efluente é determinada na origem e não no desempenho da ETARI.
“Apesar de esta última apresentar um desempenho excecional, foi da área da linha de pasta que vieram os mais recentes contributos no sentido de melhorar a qualidade do nosso efluente”, acrescenta o diretor fabril. Apesar do aumento de produção verificado constata-se que houve uma melhoria notável na qualidade do efluente tratado pela ETARI da Celtejo. Todos os indicadores se apresentam com níveis muito bons, mas Pedro Baptista destaca dois deles: a carência química de oxigénio (CQO) e a cor.
“O baixo CQO está relacionado com as melhorias na linha de fibra. Uma boa lavagem da pasta leva a uma redução na carga orgânica com benefícios no consumo de químicos de branqueamento.”
Em relação à cor, que é o parâmetro mais visível para a população, o responsável explica que fazem um grande esforço para o reduzir, embora refira que “a associação de cor com a qualidade do efluente nem sempre seja feita da forma mais correta. Neste momento podemos dizer que a cor do nosso efluente está muito próxima da cor da água do rio”.
Embora não seja um parâmetro de controlo, a Celtejo também monitoriza o oxigénio dissolvido na água do Tejo. Na época mais seca do ano, chegam a adicionar oxigénio ao efluente final, o que permite constatar nos últimos anos que os níveis de oxigénio dissolvido no Tejo são mais elevados a jusante da fábrica do que a montante.
Efluente utilizado como água de rega
“A Celtejo não se contenta com estes resultados e está a analisar outras medidas que permitam aplicar os conceitos da economia circular”, explicou Pedro Baptista. Um dos cenários possíveis passa por utilizar o efluente como água de rega, mas para que isso se torne uma realidade há a necessidade de passar por um processo de licenciamento junto das autoridades competentes.
Ainda relativamente a este assunto, existem algumas atividades em curso na área das lamas biológicas geradas na ETARI referiu que “estão a testar uma instalação-piloto de uma empresa especializada, com a qual se pretende obter um produto fertilizante que pode ser utilizado na agricultura e na floresta”. Na verdade, pretende-se devolver à floresta aquilo que provém de lá.
A licença em vigor obriga a Celtejo a realizar 4.020 análises ao ano, mas na realidade são feitas cerca de 24.000 análises relacionadas com o efluente e com o Tejo
Estudo independente da qualidade da água do Tejo
A Celtejo pediu a um laboratório associado à Universidade de Coimbra um estudo independente de caracterização da qualidade da água do Tejo em diversos pontos do rio.
“O que se pretende estudar são as circunstâncias que levam à ocorrência de espuma e cor, especialmente na região de Abrantes”, disse Pedro Baptista. “No início do estudo as fronteiras estavam fechadas devido à pandemia e não foi possível entrar em território espanhol, mas com a reabertura foram recolhidas amostras no Tejo desde o transvase Tejo-Segura.”
As associações ambientalistas presentes na iniciativa reconheceram a importância dos investimentos realizados e o seu impacto no desempenho ambiental da Celtejo. Luís Pereira, presidente da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão, mostrou-se satisfeito com o evento, manifestou o agrado da autarquia com o desempenho da Celtejo e ficou sensibilizado com o projeto de reutilização do efluente tratado para rega.
O autarca aproveitou o evento para lançar um desafio aos presentes, pedindo mais colaboração e partilha de informação entre a empresa, as associações ambientalistas e a autarquia.
A ProTejo, uma das entidades ambientalistas que marcaram presença no evento com Armindo Silveira e Paulo Constantino, reconheceu que obteve informação junto da Associação Portuguesa do Ambiente em como “nos últimos 12 meses a Celtejo tinha cumprido todos os valores-limites de emissão (VLE) dos parâmetros ambientais da sua licença ambiental”.
A associação aceitou o desafio lançado pelo autarca de Vila Velha de Ródão, tendo mostrado interesse em colaborar com a Celtejo para garantir a melhoria da qualidade da água do Tejo e em aceder ao estudo que o laboratório independente está a realizar do rio, cuja conclusão está prevista para o próximo mês de novembro.
Por seu lado, a Celtejo partilhou ter uma postura absolutamente transparente e cooperante. “Temos todo o interesse em ter uma relação de total colaboração com as entidades que, de alguma forma, são afetadas pela nossa atividade”, concluiu Pedro Baptista.
Visita às instalações
Uma vez finalizada a apresentação e o período de perguntas e respostas aos participantes, houve tempo para fazer uma visita à fábrica e à ETARI. Na última etapa da visita foi possível observar o efluente final a passar num tubo transparente, o que causou um impacto positivo nos participantes.
No fim do evento, os participantes saíram elucidados sobre as muitas medidas e ações desenvolvidas pela Celtejo, concluindo que a qualidade do efluente pode ultrapassar a qualidade da água do Tejo.
Para concluir, Pedro Baptista, quando questionado sobre o balanço final da iniciativa, considera que foi “um sucesso e um virar de página na relação da Celtejo com a comunidade e com as organizações que se apresentam como protetoras do rio Tejo”.