Fazer da mudança uma aventura
Lembro-me de em criança passar dias de férias no escritório da minha mãe. Lá havia uma sala cheia de secretárias, cada uma com uma máquina de escrever profissional.
By Sara Midões
docente, mentora e coach. Especialista em liderança e cultura positivas
Era a “Sala das Datilógrafas”. E eu adorava escrever coisas – importantíssimas, claro – naquelas máquinas modernas. Anos mais tarde, surgiram os computadores portáteis e a profissão desapareceu. Dando um salto de 40 anos, temos a Inteligência Artificial e outros fenómenos tecnológicos que nos empurram para mudanças cada vez mais disruptivas. As mudanças de hoje são mais rápidas, mais exigentes, mais complexas… Tal assim é que, diz o World Economic Forum numa projeção para 2030, a Adaptabilidade é uma das competências intrapessoais que terá um maior crescimento em contexto de trabalho. Mas mudar não é de agora. Famosa é a frase de Heráclito, filósofo grego, em 600 A.C.: “Não há nada permanente, com exceção da mudança”. Os budistas falam na Lei da Impermanência, postulando que todos os fenómenos da vida estão em contínuo fluxo de movimento, manifestando-se e dissolvendo-se num eterno devir. Desde sempre e agora cada vez mais, mudar faz parte da vida e é uma constante.
Mas não é fácil mudar. Trocar o certo pelo incerto traz desconforto. O nosso cérebro não gosta de lidar com incertezas. Perante situações para as quais não consegue prever o desfecho, ativa mecanismos de sobrevivência, acionando medo e ansiedade. Experimente simplesmente lavar os dentes com a mão que não costuma usar, ou, se conduz, imagine-se a conduzir com o volante à direita, circulando na faixa da esquerda… só de imaginar é desconfortável. Mudar é isso mesmo: desconfortável. Trocar o certo pelo incerto, o interiorizado pelo novo. É a tal velha máxima conhecida: “sair da zona de conforto”. Mudar custa.
Se perguntarmos a um grupo de pessoas se querem mudar, muitos dirão que não. Se perguntarmos ao mesmo grupo se querem melhorar, aí as respostas são diferentes. Mas como é possível melhorar sem mudar? Melhorar implica mudança. E, como não mudar, se queremos atingir objetivos ao longo da vida? Se queremos ter uma casa nova? Ou ter filhos? Ou ter uma experiência profissional diferente? Como não mudar se queremos aprender? Mudar, quer queiramos quer não, é necessário.
Mas se a mudança é uma constante, é desconfortável, mas é necessária, então como fazer dela nossa parceira? Como fazer deste processo algo que nos entusiasme ao invés de nos assustar? Algo que nos ensine, que promova o nosso autoconhecimento, que nos traga brilho e brio, que nos teste e que nos valide, que nos faça crescer?
A resposta é simples. Muitas vezes, basta afinar o nosso olhar. Escolher as lentes certas, da possibilidade e da esperança. As lentes de acreditar em nós e nos outros. As que veem na mudança um desafio que nos entusiasma e que nos faz vibrar.
A resposta é simples, mas não é simplista. Esse olhar tem de vir de dentro, ser genuíno, partir de nós. Largar os receios, fazer o que está ao nosso alcance. Apegarmo-nos ao que importa e largar o que não nos acrescenta. Dar o nosso melhor.
A viagem da mudança é uma aventura. E é maravilhosa