Resíduo ou matéria-prima?

Resíduo ou matéria-prima?

As fábricas de fibras celulósicas são um excelente exemplo do conceito de economia circular e de sustentabilidade. O que seria a produção de fibras celulósicas sem a recuperação de químicos e de energia? O desperdício que seria em matérias-primas, energia e a elevada produção de resíduos. Seria sustentável? Claro que não.

Os resíduos são o parente pobre de qualquer organização. São considerados desperdícios, como algo a eliminar, sem valor. Efetivamente, a legislação define como resíduo, quaisquer substâncias ou objetos de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou obrigação de se desfazer. Ou seja, qualquer substância ou objeto que deixe de ter utilidade passa a ser considerado um resíduo e automaticamente a sua gestão fica abrangida pelas normas específicas que lhe são aplicadas. Na maioria das situações, à gestão de resíduos estão associados custos que, em empresas como a Altri, são bastante relevantes. Daí a necessidade de olhar para os resíduos de outra forma.

Foi realizado um projeto na Celbi, cujo principal objetivo consistiu na capacitação do Grupo para a produção de fibras celulósicas com incorporação de fontes de fibra residuais – tais como materiais fibrosos finos e rejeitos do processo de fabrico de fibras celulósicas –, contribuindo, deste modo, para a redução da dependência de madeira externa e para reduzir os custos de madeira do Grupo. A inovação está na simplicidade do conceito e na tecnologia associada, cuja combinação deu origem a um protótipo de digestor único ao nível mundial. Este projeto tem impacto na redução da produção de resíduos e promove a economia circular.

A reciclagem de papel e cartão, de pneus, de sucata metálica, de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEEs) e de óleos usados são alguns dos exemplos que já fazem parte dos destinos escolhidos pela organização desde há muito tempo.

Neste momento, as lamas biológicas provenientes da ETARI (Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais) são encaminhadas para gestores onde, juntamente com as cinzas das caldeiras termoelétricas a biomassa, são transformadas em composto que serve de fertilizante dos solos enriquecendo-os com matéria orgânica, tão necessária e escassa. No próximo ano, no âmbito de uma parceria com a Agristarbio, prevemos produzir um fertilizante organomineral, produzido a partir das lamas das ETARIs, que substituirá adubos químicos de síntese, utilizados nas florestas geridas pela Altri Florestal. As lamas biológicas são ainda utilizadas como matéria-prima, no processo de produção de argilas expandidas, e como combustível com aproveitamento energético, na caldeira de recuperação e na caldeira termoelétrica a biomassa.

As lamas de carbonato, outro dos resíduos produzidos no Grupo Altri são valorizadas como matéria-prima na indústria do cimento e em breve como matéria-prima de pastas cerâmicas. As areias do leito fluidizado são utilizadas na produção de argamassas, produtos de betão para construção e em recuperação paisagística.

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As lamas biológicas provenientes da ETARI são encaminhadas para gestores onde, juntamente com as cinzas das caldeiras termoelétricas a biomassa, são transformadas em composto que serve de fertilizante dos solos enriquecendo-os com matéria orgânica.

Devemos olhar para os resíduos como mais um fluxo a que podemos e devemos atribuir valor, porque, na verdade, quase todos podem ser úteis numa perspetiva de circularidade quando incorporados em novos produtos.

Mas a nossa ambição não termina aqui. O Grupo Altri tem apostado em soluções sustentáveis e renováveis na sua atividade. Esta nossa ambição ficou amplamente espelhada no lançamento do nosso Compromisso 2030 (acessível em https://altri.pt/pt/sustentabilidade/o-nosso-compromisso). Este documento identifica as metas que nos propomos atingir até 2030, nas mais variadas áreas, com particular enfoque em sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). São 12 as metas que apontam o nosso futuro, de que destacamos o objetivo de valorizar 100% dos resíduos.

Estamos a trilhar vários caminhos para a concretização desse objetivo. No âmbito do Kobetsu ‘Regresso às origens’, foram identificadas possíveis aplicações de resíduos produzidos nas nossas instalações industriais, com vista à sua aplicação para melhorar a qualidade dos solos, nomeadamente nas plantações de eucalipto, que é a nossa principal matéria-prima. O objetivo é devolver elementos que foram retirados à floresta (na madeira e na biomassa) e que continuam presentes nos resíduos no fim do processo. Atualmente, está em análise a possibilidade de utilizar as lamas de cal e as cinzas da caldeira de biomassa como corretivo alcalinizante dos solos e a utilização das areias de leito fluidizado no enchimento de depressões existentes nos caminhos florestais. Estes são alguns exemplos de valorização de resíduos já implementados e em desenvolvimento na Altri, pelo que quando nos perguntam: Resíduo ou matéria-prima? não temos dúvidas: Matéria-prima!