Queremos consolidar a segurança como um compromisso coletivo
A segurança é hoje um valor e uma prioridade corporativa, com um forte compromisso da liderança e a implementação de processos e tecnologias que visam promover um ambiente de trabalho cada vez mais seguro.
By Fernanda Bonifácio
Diretora de Security & Business Continuity, E-REDES
A E-REDES está a transitar para uma cultura de segurança no trabalho cada vez mais interdependente, onde cada um zela por si e pelo próximo. Falamos com Fernanda Bonifácio, Diretora de Safety Security & Business Continuity da E-REDES – Distribuição de Eletricidade, para partilhar as iniciativas de proximidade que tem em marcha, visando ultrapassar barreiras comunicacionais, de melhoria na agilidade na aprendizagem com os erros, de premiação dos bons exemplos e de penalização dos comportamentos não aceitáveis, bem como de reforço da presença no terreno. A segurança tem sido uma prioridade estratégica da E-REDES.
Como descreve a evolução da cultura de segurança na empresa ao longo dos anos?
Ao longo dos anos, a cultura de segurança da E-REDES tem vindo a evoluir, indo de uma abordagem mais reativa para uma estratégia preventiva e integrada. Ainda assim, não nos encontramos no ponto ótimo, continuamos a ter uma cultura dependente, onde a segurança ainda é muitas vezes vista como um conjunto de regras formais, sem que haja um real compromisso por parte das pessoas envolvidas. A meta de “Zero Acidentes Graves e Mortais” é ambiciosa.

Quais são os principais desafios para alcançar esse objetivo?
Alcançar essa meta exige a consolidação de comportamentos seguros, uma gestão eficaz de riscos e o compromisso contínuo de todos os envolvidos. Os desafios incluem a conscientização constante, a fiscalização rigorosa e o fortalecimento do compromisso das lideranças para garantir um ambiente de trabalho seguro e sem acidentes. Diria que existem muitos desafios para que isso ocorra, mas também várias oportunidades que devem ser exploradas. O alcance da comunicação a todas as camadas, o reforço de investimento nas redes de distribuição, visando garantir a transição energética numa sociedade cada vez mais eletrificada, a escassez de mão de obra, aliada à falta de competências, a existência de muitos players (onde reside a nossa maior força laboral) com níveis de maturidade distintos, são alguns dos constrangimentos que enfrentamos. Contudo, há atualmente a possibilidade de explorar a aplicação de novas tecnologias, quer na execução das operações, quer na mitigação de acidentes, aceder à informação de melhores práticas e incrementar a eficiência dos processos. Estas são algumas das oportunidades que devem ser perseguidas, mudando a forma como trabalhamos e abordamos a segurança
A segurança vai além do cumprimento de normas e regulamentos. Como promovem um verdadeiro compromisso com a segurança entre os trabalhadores e os parceiros?
Mais do que seguir normas, procuramos fomentar uma mentalidade de segurança através de campanhas de conscientização, formação e reconhecimento de boas práticas. Tentamos criar um ambiente onde trabalhadores e parceiros se sintam responsáveis não apenas por si mesmos, mas também pelos outros elementos da equipa, reforçando um compromisso coletivo com a segurança. Neste âmbito, estabelecemos e acompanhamos um conjunto de indicadores de segurança, preventivos e reativos, implementámos fóruns de partilha de melhores práticas e promovemos iniciativas conjuntas onde a segurança é o tema central. Disso são exemplos, as Olimpíadas da Segurança, uma competição saudável entre eletricistas próprios e de parceiros; os Safe Start, que são conversas informais nos estaleiros antes da jornada de trabalho; o programa “A Segurança Toca a Todos”, destinado à formação das lideranças em ferramentas de comunicação. Para 2025, quisemos juntar sinergias e ir mais longe. Para isso, desafiámos os nossos principais parceiros a desenvolver, connosco, um plano de ações transversal que endereçasse as principais causas-raiz dos acidentes e quase-acidentes.
A investigação de incidentes e a aprendizagem com os erros são fundamentais. O que mudou na abordagem da E-REDES nos últimos anos para garantir que as lições aprendidas sejam aplicadas?
A E-REDES considera fundamental investir no apuramento aprofundado de incidentes. Para isso, em 2023, promovemos uma formação dirigida aos líderes operacionais e membros da equipa de Segurança, em metodologias de investigação, com vista ao aprofundamento das causas-raiz e identificação de ações de mitigação. Já em 2024, procedemos a uma alteração organizacional, centralizando a análise de acidentes e quase-acidentes, por forma a garantir a uniformização no tratamento e na qualidade dos relatórios. Além disso, nesse mesmo ano, a EDP criou um “Painel de Especialistas”, composto por peritos de diferentes áreas de negócio, com o objetivo de trazer uma nova perspetiva às análises realizadas. Nos últimos anos, investiu-se também na digitalização do reporte e do tratamento das ações decorrentes dos incidentes, visando maior agilidade na comunicação e no seguimento mais eficaz das iniciativas. As ações de comunicação e formação, direcionadas aos nossos trabalhadores e parceiros, têm sido fundamentais para a partilha de incidentes e lições aprendidas, além da identificação de ações complementares. Esse processo tem sido essencial para a implementação de ajustes contínuos nos procedimentos e o fortalecimento das competências, contribuindo para a prevenção de falhas e o reforço da cultura de segurança.
A E-REDES tem um conjunto de iniciativas estruturadas, como o programa “A Segurança Toca a Todos”, o “Safe Start” e o “Programa de Reconhecimento da Excelência em Segurança”. Qual é o impacto destas ações?
Os programas “A Segurança Toca a Todos” e “Safe Start” promovem maior comprometimento com a segurança, enquanto o “Programa de Reconhecimento da Excelência em Segurança” incentiva boas práticas. Em 2024, conseguimos impactar cerca de 12.000 trabalhadores. Cremos que estas ações aproximam trabalhadores e lideranças, aumentam a eficácia da comunicação e daí resultar uma maior conscientização, redução de riscos e um ambiente de trabalho mais seguro.
Há uma aposta forte na capacitação das lideranças. Como é que os programas de formação, como o “Safety Leadership” e os workshops, contribuem para um maior envolvimento dos gestores na área da segurança?
Os programas “Safety Leadership” e workshops capacitam gestores para liderar pelo exemplo e reforçar a importância da segurança no dia a dia. Isso cria um alinhamento estratégico, garantindo que a segurança seja tratada como prioridade em todos os níveis da organização.
A relação com os Parceiros de Serviços Externos (PSE) é essencial. Como asseguram que os critérios de segurança são entendidos e aplicados por estas entidades?
Asseguramos que os PSE compreendam e apliquem os nossos padrões de segurança por meio de requisitos contratuais, vistorias regulares, estabelecimento de objetivos conjuntos, reuniões periódicas e formações específicas. O diálogo contínuo e a cooperação são essenciais para garantir que os critérios sejam cumpridos e aprimorados constantemente.
A digitalização e a inovação têm sido aplicadas em várias áreas. Como podem estas ferramentas ajudar a melhorar os processos de segurança?
A tecnologia tem sido uma grande aliada na prevenção de riscos. Sensores inteligentes, análise de dados e simuladores virtuais ajudam a monitorar condições de segurança em tempo real e antecipar possíveis falhas, tornando os processos mais eficientes e seguros. A título de exemplo, refiro que a E-REDES realiza, anualmente, cerca de 13.000 vistorias, complementadas por mais de 2.000 observações preventivas de segurança. Esse conjunto de ações gera um valioso volume de informações, essencial para a atuação preventiva. Sem a digitalização do processo e a análise automatizada dos dados, seria um grande desafio garantir uma resposta ágil e eficaz.
Há novas iniciativas ou estratégias que pretendam implementar nos próximos anos? E qual é o principal objetivo?
Há muito ainda a fazer a nível da Cultura de Segurança. A estratégia passa por focar as equipas em projetos de transformação e fazer a Organização acompanhar estes processos de mudança. Para 2025 e próximos anos, estaremos muito orientados para desenvolver ações que mitiguem os acidentes graves e mortais. Isso passa por Desenvolver Competências e Capacidade de Transformação através das Pessoas e da Tecnologia; Aumentar o Impacto através da Melhoria Contínua e de Processos Optimizados, e Reforçar o Compromisso da Liderança com a Segurança, a Proteção e a Continuidade do Negócio. Planeamos expandir a digitalização da segurança, fortalecer a cultura preventiva e aprimorar a formação de lideranças e trabalhadores. O objetivo principal é reduzir incidentes e consolidar a segurança como um pilar essencial na empresa.
Tendo tido oportunidade de partilhar experiências com o Grupo Altri e de participar na sua Convenção de Segurança, como sente este esforço empresarial em privilegiar a segurança dos seus trabalhadores acima de tudo?
Participar da Convenção de Segurança do Grupo Altri foi uma oportunidade valiosa para partilhar boas práticas e reforçar a importância da segurança no setor. O compromisso do grupo em priorizar a segurança dos trabalhadores destaca a relevância de uma atuação coletiva e colaborativa na prevenção de acidentes.