António Almeida Henriques : “A inteligência urbana pode ajudar a vencer as desigualdades do país”
António Almeida Henriques : “A inteligência urbana pode ajudar a vencer as desigualdades do país”
O país é assimétrico com 70% da população portuguesa fixada em 50 quilómetros da nossa costa, a densidade deste território é de 350 hab./km2 mas no resto país é de cerca de 90 hab./km2. Como é que um país com diferentes velocidades poderá responder a este desafio das cidades inteligentes e dos territórios inteligentes, interroga-se António Almeida Henriques, vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Para este autarca "há um indicador positivo, nos últimos anos demos um grande salto, juntando os territórios, depois o sistema científico-tecnológico e as empresas. Este triângulo virtuoso tem feito um bom percurso. Hoje, Portugal ao nível das cidades médias não fica a dever nada ao que é o desenvolvimento em termos mundiais".
Deu o exemplo de Viseu, onde é presidente da câmara municipal há sete anos, para os desafios que as cidades médias têm pela frente. É um território com 507 km2 com diferentes realidades e onde se criou uma mobilidade urbana e interurbana que une as 25 freguesias do concelho. Mas o desafio é ligar as pessoas das zonas de baixa densidade através do transporte on demand. “Por mais ciclovias e ecovias que se façam para ligar as freguesias, e introduzir mobilidade suave, não nos podemos esquecer das populações envelhecidas e os jovens estudantes em que o transporte a pedido (on demand) acaba por ser uma solução”, diz António Almeida Henriques.
“A inteligência urbana deverá ser um dos principais instrumentos para vencer as desigualdades do país e se calhar temos de começar a construir a cidade pela sua base que é a infraestrutura digital, mas no meu território um terço não tem cobertura digital em fibra ótica. Quando falamos em 5G no país, e sabemos que nem todo o território vai ser contemplado, ainda existem faixas dos nossos territórios que nem cobertura de 3G têm”, assinala o autarca de Viseu.
Acessibilidade digital
Na sua opinião, tal como a seguir ao 25 de Abril de 1974 se levou a eletricidade a casa das pessoas, é fundamental que, num curto espaço de tempo, “se consiga esbater a principal assimetria do país e proporcionar igualdade de oportunidades a todos os cidadãos no que diz respeito à acessibilidade digital”.
A acessibilidade digital também influencia a relação da administração local com os seus cidadãos, como acontece em Viseu. “Os cidadãos estão mais exigentes, querem ter no online a informação total, ter transparência como os municípios são geridos por isso querem ter o acesso a tudo, desde o urbanismo a uma licença das mais simples”, refere António Almeida Henriques.
Os cidadãos estão mais exigentes, querem ter no online a informação total.
António Almeida HenriquesPresidente da Câmara Municipal de Viseu
Por outro lado, não querem uma gestão de cima para baixo. “Querem participar na gestão da cidade, ser parte ativa, e saber, em cada momento, que opções estão a ser tomadas. Por isso a importância dos orçamentos participativos, das consultas permanentes e a partilha de dados com os cidadãos”, concluiu António Almeida Henriques.
A acessibilidade digital é importante na mobilidade, na relação com os cidadãos, mas também na eficiência e produção energéticas. Nos últimos seis anos, Viseu captou uma central de biomassa, dois polos de energia eólica e uma mini-hídrica “o que nos aproxima de um padrão de autossustentabilidade produzindo tanta energia limpa como a que consumimos”, sustenta Almeida Henriques.
Referiu ainda que a da inteligência urbana pode ser uma dupla oportunidade. “É uma oportunidade para podermos fazer as pessoas mais felizes e trabalhar mais para os nossos cidadãos e também para nós gestores podermos ser mais eficazes e aproveitarmos melhor os recursos.” A segunda oportunidade é a fixação de talento. “A Deloitte está fixada hoje em Viseu, fora das duas grandes Áreas Metropolitanas Lisboa e Porto e seguramente os seus trabalhadores são mais felizes, serão até mais produtivos por viverem numa cidade onde há tempo para fazer”, concluiu António Almeida Henriques.